terça-feira, 30 de abril de 2013

Ministério da Cultura convida para treinamento


A Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura e a Representação Regional Sul do Ministério da Cultura ( em nome de Margarete Moraes, representante do Ministério da Cultura na Região Sul, e Henilton Menezes, secretário de Fomento e Incentivo à Cultura do Ministerio da Cultura, convidam todos os segmentos da sociedade, artistas, produtores, pesquisadores, gestores e sociedade civil para o treinamento sobre a nova plataforma do Sistema SALICWEB que entrará em vigor em breve. O encontro será realizado dia 06 de maio, das 9h às 18h, no Teatro Bruno Kiefer, da Casa de Cultura Mario Quintana (Rua dos Andradas, 736, Centro - Porto Alegre).
9h  - Abertura com Henilton Menezes, secretário de Fomento e Incentivo à Cultura/SEFIC/MinC e Margarete Moraes, representante do MinC na Região Sul; 
10h - Apresentação sobre as vantagens e as facilidades da nova versão do sistema SALICWEB;
11h - Demonstração de acesso ao sistema, apresentação do novo perfil do usuário e visão geral das novas funcionalidades.
12h - Intervalo para almoço.
14h - Treinamento com as principais atividades dos usuários;
17h - Avaliação do treinamento e esclarecimentos de dúvidas;
18h - Encerramento.
A confirmação de presença pelo deve ser feita pelo e-mail atendimentopronacsul@cultura.gov.br. Não serão fornecidos certificados.  



Obra valoriza os inovadores negros e suas contribuições na área da ciência




Livro destaca trabalho desenvolvido por negras e negros inventores e cientistas

De um simples esfregão a uma solda ultravioleta usada na indústria espacial, invenções idealizadas e construídas por mãos negras ganham publicação inédita no Brasil intitulada “Negros e negras inventores, cientistas e pioneiros” * 

O historiador Carlos Eduardo Dias Machado tinha 25 anos quando uma publicidade do McDonald’s abriu seus olhos para a invisibilidade do protagonismo negro no campo da ciência, tecnologia e inovação. 

Era um anúncio da rede de fast food em uma edição da revista norte-americana voltada aos afrodescendentes chamada Ebony, que circulou em fevereiro de 1996. A publicidade em homenagem ao Mês da História Negra trazia ilustrações de objetos que foram inventados por pessoas negras (como o semáforo, geladeira, caneta tinteiro, pino de golfe e filamento de carbono para a lâmpada elétrica) sob o seguinte título: “Toda a vez que você usa uma dessas coisas, você está celebrando a história negra”. 
“Fiquei feliz ao saber disso, mas ao mesmo tempo muito espantado por nunca ter ouvido sobre inventores negros antes e nunca ter recebido essas informações na escola”, conta. 

No mesmo ano, Machado começou a pesquisar sobre o tema e descobriu que não havia nenhum livro em português sobre a importância da população negra na tecnologia e inovação. “Pensei: ‘alguém tem que escrever esse livro, e por que não eu’?”, lembra. 

O livro da EDUEL (Editora da Universidade de Londrina, em parceria com a Uniafro do Ministério da Educação), faz parte da série “Nossos saberes, nossos conhecimentos”, lançada pelo NEA, Núcleo de Estudos Afro-Asiáticos da Universidade de Londrina. 


Leia abaixo a entrevista com o autor. 

CEERT: Fale um pouco sobre o que te estimulou a pesquisar e, posteriormente, escrever sobre este tema? 
Carlos Machado: O meu livro versa sobre a presença de mulheres e homens negros na área da ciência tecnologia e inovação, acrescido daqueles que ganharam o Prêmio Nobel. Depois do episódio do anúncio na revista Ebony, comecei a pensar sobre a referência dominante sobre a população negra. Referência essa que diz que somos bons trabalhadores braçais, fortes, com aptidões nos esportes e nas artes. Porém há uma total invisibilidade dos nossos conhecimentos nas ciências biológicas e exatas. Na Europa você encontra publicações como o meu livro, nos Estados Unidos e Canadá também e justamente no Brasil, com maioria da população negra, esse tema era intocado. 

CEERT: Como foi o processo de escrita e publicação? 
C.M.: Por meio da internet traduzi do inglês para português o perfil de vários cientistas. Escrevi o livro só em 2005, então fiquei amadurecendo a ideia por muito tempo. Em nove meses, o livro estava pronto e comecei a divulgá-lo para as editoras. 


CEERT: Você encontrou dificuldade nas editoras? 
C.M.: Sim, grande parte não deu resposta e as poucas que responderam vieram com negativas. A verdade é que as editoras não tinham interesse em publicar um livro nessa linha de ciência, tecnologia e inovação afrodescendente. 

CEERT: O livro tem cientistas brasileiros/as? 
C.M: Sim, só que em número reduzido porque na época eu quis dar uma abordagem pan-africanista com foco na diáspora. Outra razão que acarretou na pouca presença nacional foi a minha dificuldade em achar fontes de informação sobre inventores brasileiros. A maioria dos sites sobre esse tema é norte-americano. Ainda hoje o Brasil não tem um site dedicado ao perfil de cientistas negros brasileiros. Creio que a preocupação em produzir inovação no Brasil é algo recente, pois sempre houve a cultura de importar tecnologia e não de desenvolvê-la. Os cientistas daqui eram desprezados. Por exemplo, um amigo que mora nos Estados Unidos me mostrou certa vez uma HQ dos anos 70 sobre cientistas negros que foi lançada com objetivo de incentivar jovens negros a entrarem na área da Engenharia. 

CEERT: Qual foi a invenção mais curiosa queencontrou na sua pesquisa? 
C.M.: Foi a do Dr. George Washington Carver, pesquisador do Instituto Tuskegee, no Alabama, uma universidade historicamente negra, onde ficou pelo resto da vida. No seu trabalho científico e engenhoso, Carver não só conseguiu vários resultados, como fez muito pelo bem dos negros e de toda a região sul dos Estados Unidos. Em seu humilde laboratório, pesquisou várias plantas e descobriu muitos produtos derivados do amendoim, batata-doce, noz pecâ e outros vegetais. Estas culturas eram alimentos apenas dados aos porcos. Um de seus feitos mais famosos foi conseguir produzir o índigo, que dá o tom às calças jeans e que salvou a indústria estadunidense em época de escassez de corantes. Dr. Carver era uma espécie de consultor para os pequenos agricultores, e ensinava-os sobre tudo o que se referia a plantações. Além disso, fez conferências para a associação dos agricultores e empresários do amendoim, aconselhando-os sobre o plantio e sobre a produção de derivados desse vegetal. O cientista também impressionou positivamente o Congresso americano quando foi convidado a dar sua opinião sobre a viabilidade econômica de produzir o amendoim, substituindo as importações. Ele foi amigo de presidentes dos Estados Unidos, ministros da agricultura e de empresários brancos como Henry Ford e Thomas Edison, que o convidou para trabalhar em sua empresa de invenções, impressionado pelas descobertas que saíam do seu laboratório. Ele inventou tintas, café, nitroglicerina usando o amendoim como matéria-prima. Além disso, é o inventor da pasta de amendoim. Imagine que no início do século XX a monocultura do algodão ou do fumo havia empobrecido o solo americano e as invenções de Carver surgiram como uma alternativa de renda para muitas famílias. 



CEERT: Algum exemplo brasileiro?
 
C.M.: Sim, o cientista e engenheiro André 
Rebouças. Ele tinha grande influência na família real brasileira no século XIX, tanto que com o fim da monarquia, em solidariedade à família real, ele deixou o Brasil. Criou muitas pontes e estradas. Foi homenageado em grandes cidades, dando o nome para importantes avenidas, como em São Paulo e para o túnel Rebouças no Rio de Janeiro. 

CEERT: Como você acha que a invisibilidade do negro afeta os indivíduos? 
C.M.: Ela afeta justamente a nossa humanidade. Ela deixa de revelar que o protagonismo negro não está restrito ao samba e futebol, mas sim que somos múltiplos e isso não é ensinado na escola como deveria. Nasci em 1970, estudei na época de ditadura militar, os poucos personagens negros que apareciam nas aulas eram embranquecidos. Mesmo na Literatura, como ocorre até hoje com Machado de Assis. 


CEERT: Essa tentativa de inviabilizar o negro é um fenômeno mundial? 
C.M.: Sim, sem dúvidas. O mundo todo vem de uma tradição eurocêntrica e milhões de mentes acreditam na História do jeito que ela é contada por eles nesses mais de 500 anos de dominação europeia no mundo. A genialidade negra e indígena foi esquecida por séculos e os europeus se apoderaram de muitos conhecimentos. Todo o conhecimento que recebemos nas escolas e universidades tem base greco-romana, como se antes de Grécia e Roma não tivessem existido outras civilizações. Ora, já foi provado que os primeiros seres humanos surgiram no continente africano. 



CEERT: Hoje você é professor de História da rede pública de ensino. Como é tocar nessa pauta na sala de aula? 
C.M: Eu tento fazer minha parte, mas tenho consciência que somos poucos em meio a muitos que resistem a mudanças no seu modo de ensinar. Creio que o livro ajuda a potencializar a disseminação da informação sobre a genialidade negra que ficou por muito tempo escondida. A força da hegemonia branca e do racismo é muito grande. Por exemplo, a Universidade surgiu na África. As três mais antigas do mundo ficam lá. A primeira surgiu no Marrocos, seguida do Egito e Mali. Ou seja, lugares que têm uma influência universitária muito antiga, mas nem ao menos esse dado é difundido no mundo. Daí, quando você vem e fala sobre grandes cientistas negros e, infelizmente, o senso-comum ainda se choca. Apesar da Lei 10639/2003 que completou 10 anos, ainda pouco foi feito para mostrar que a população negra tem influência em todas as áreas do conhecimento. 



CEERT: Pode citar três grandes invenções que foram idealizadas por mulheres negras? 
C.M.: Sim. Vou citar três americanas. No campo da medicina temos a invenção da oftalmologista Dra. Patricia Bath. Ela inventou a sonda Laserphaco em 1981. A sonda realiza cirurgia à laser nos olhos. Até hoje sua invenção é utilizada. Outra mulher de destaque é a Madame C.J. Walker. Ela foi a primeira mulher milionária dos EUA. Ganhou muito dinheiro com a criação de produtos para cabelos. Ela é a inventora do pente quente usado antigamente nos alisamentos de cabelos crespos. Em 1908, criou fábricas e escolas de beleza muito antes da existência das grandes empresas de cosméticos. A última é uma pesquisadora que trabalha para a NASA na área de novas tecnologias para aviação. Seu nome é Anna McGowan e é diretora de projetos dentro de um centro de investigação. Ela pesquisa um modo de criar aviões tão manobráveis e ágeis como os pássaros e insetos voadores. 


*O esfregão e o balde que o acompanha foram criados pelo inventor negro Thomas Stewart, em 1893. Já a sonda ultravioleta foi criada por George R. Carruthers, em 1972. Sua invenção foi utilizada na missão Apollo 16 à Lua. (Informações extraídas do livro “Negros e negras inventores, cientistas e pioneiros) 







Sobre o autor: Professor Mestre em História Social pela USP, ex-bolsista da Fundação Ford e professor da rede pública de ensino. 



(Fonte: Portal Ceert: http://www.ceert.org.br/noticiario.php?id=3483)



domingo, 28 de abril de 2013

Igualdade Racial é pra Valer


Curso de Extensão


Reforçamos que as inscrições serão realizadas através do e-mail: deds@prorext.ufrgs.br onde deverão constar, além da manifestação de interesse em participar da atividade, os seguintes dados:
Público Interno UFRGS (Professores, Técnicos Administrativos e/ou alunos):
- Nome
- Nº do Cartão UFRGS
- Fones para Contato
Público Externo
- Nome Completo
- RG
- CPF
- Fones para Contato.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Museu Afro


A ministra da Cultura Marta Suplicy participou na manhã deste sábado (20), no Rio de Janeiro, de reunião com o grupo interdisciplinar que discute a contextualização e concepção do Museu de Memória e Cultura Afrodescendente, que será construído em Brasília.

O presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa, Manolo Florentino, e o professor embaixador Alberto da Costa e Silva (à esquerda e direita da ministra Marta Suplicy na foto ao lado) fazem parte deste grupo composto por historiadores, sociólogos, artistas plásticos, museólogos, arquitetos, engenheiros e educadores. Manolo explica que ainda serão realizadas reuniões com especialistas de diversas áreas e representantes de movimentos sociais antes da concepção do projeto final.

O museu contará a história do negro no Brasil e de sua contribuição para a formação da nossa identidade. Dos 10 milhões de negros escravizados, cinco milhões vieram para o nosso país. "Nossa cultura é negra, somos 53% de afrodescendentes no Brasil e precisamos contar essa história. Temos o sofrimento da escravidão, mas por outro lado também temos o reconhecimento da nossa formação como nação, é um resgate dessa influência e da autoestima", defendeu a ministra.

Referência
Um dos objetivos é fazer do museu um centro de referência nacional e internacional para pesquisadores sobre a cultura afro-brasileira. Além disso, outra ideia apresentada pelo grupo à ministra Marta Suplicy é de que o museu promova constantes parcerias com outros memoriais de todo mundo para intercâmbio de acervos e experiências.

O museu contará com recursos tecnológicos que possibilitarão aos visitantes uma experiência diferenciada; intensa utilização de elementos de multimídia e ferramentas para uso de conteúdo virtual. Recentemente, a ministra da Cultura foi aos Estados Unidos para estudar experiências norte-americanas bem-sucedidas na instalação de museus.

A construção do museu será feita em área nobre de Brasília, no Lago Sul, terreno que pertence atualmente à Fundação Cultural Palmares.

Texto: Ascom MinC

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Mulheres e Direitos


Lideranças Negras e Identidade Étnica


Estão abertas as inscrições para o curso de extensão ‘Lideranças Negras e Identidade Étnica do Rio Grande do Sul (nos séculos XIX-XX)’, que ocorre entre maio e setembro de 2013, com encontros mensais, das 8h30 às 12h e das 14 às 18h, no Auditório da Faculdade de Arquitetura (Rua Sarmento Leite, 320 – Campus Centro).
Voltado a estudantes, professores e comunidade em geral, o curso abordará questões relacionadas às lideranças negras nas diversas dimensões (políticas, sociais, culturais, individuais, coletivas, laicas, religiosas, populares e eruditas).
A atividade é realizada pelo Departamento de Educação e Desenvolvimento Social/PROREXT, em parceria com o programa de Pós-Graduação e História e Departamento de História – IFCH/UFRGS.
Conferência de abertura – A atividade inaugural do curso será ministrada por Elisa Larkin Nascimento, diretora do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro), doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano. A conferência ocorre dia sete de maio, às 9h30, no Auditório da Faculdade de Arquitetura.
Informações completas e inscrições pelo e-mail: deds@prorext.ufrgs.br.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

6 mitos sobre o negro no mercado de trabalho



(Fonte: Site afronegocios.com)
Nesses anos todos entrando nas empresas para falar de contratação de profissionais negros, já vi e ouvi muitas coisas que vocês nem imaginam, entre tantas, listo aqui seis mitos para iniciarmos uma reflexão, um debate, sobre isso:

1* não encontramos negros capacitados
Esse é o número 1. É incrível! Muitas empresas dizem que não estamos qualificados, que não temos todos os requisitos das vagas sendo que, discriminam o profissional negro no recrutamento. Excluem currículos pelo bairro que moram, pelo tipo de faculdade que cursam, quem não fez faculdade...

2* nunca nem percebi que não tinham negros aqui
É “comum” ver a maioria dos funcionários brancos enquanto a maioria da população é negra? Se nós somos mais de 50% da população brasileira deveríamos ter números compatíveis no mercado de trabalho não? Como é que não percebem que faltam negros nas empresas? Nas 500 maiores e melhores, segundo pesquisa do Instituto Ethos, somos 31,1% e os brancos 67,3%. As mulheres negras são as que mais sofrem por terem menos oportunidades e quando tem ganham menores salários. Mesmo assim, das que conseguem ascender nesse cenário apenas 0,5% de mulheres negras estão entre os executivos brasileiros.

3* não existe racismo aqui na empresa, temos negros como seguranças
Essa é do  “mito da democracia racial” se hoje, temos qualificação profissional, experiência, currículo, porque não contratar mais negros além da área de segurança, recepção, limpeza? Porque não inserir mais negros no nível tático e estratégico?

4*para trabalhar numa empresa grande, só com cabelo alisado
Nós mulheres negras temos mesmo a falsa ideia de que o cabelo liso é mais aceito, mais formal, mais comportado! Mito! Nosso cabelo pode estar alinhado a qualquer tipo de empresa com o penteado, a trança, o acessório e o que mais você quiser usar no seu cabelo! Respeite odress code (regras de vestimentas) da empresa e todos respeitarão o seu cabelo!

5* meu estilo não é aceito pela empresa
Essa é complemento da anterior. Cada empresa tem seu dress code, sua forma de se vestir, suas regras, seu estilo. Alguns detalhados no regulamento interno, no código de ética, alguns são direcionados pelo tipo de mercado que a empresa está inserida, outros pelo tipo de produto que comercializa. Independente do tipo de empresa, você tem que saber ler esse código e estar formal, esportivo, se é casual. Na verdade, suas roupas vendem a imagem profissional de quem você é.

6* os programas de diversidade não aceitam negros
Já é uma prática, oriunda das empresas multinacionais a inclusão de profissionais da diversidade, entre eles, estão pessoas com deficiência, mulheres, melhor idade, jovem aprendiz, LGBT e negros. A estratégia das empresas é diversificar o quadro de profissionais, na maioria branca e masculina. Assim, empresas que trabalham com programas de diversidade, incluem negros sim! Aliás, é até uma porta de entrada, mas, a maioria exige o conhecimento em inglês!

* Patrícia Santos de Jesus é pedagoga, especialista em Recursos Humanos. É idealizadora do EmpregueAfro – programa de ação afirmativa que desde 2005 luta pela inclusão do negro no mercado de trabalho.

Piratini - Quilombolas


Piratini.
Famílias quilombolas de Piratini receberão 44 moradias
Fruto do convênio entre a Cooperativa de Crédito Rural Horizontes Novos (Crehnor) e o Governo do Estado, foi assinado no município de Piratini (RS), no sábado (13), 44 contratos habitacionais destinados às famílias quilombolas da localidade. Joel dos Santos, diretor-adjunto do Departamento de Aquicultura, Pesca, Quilombolas e Indígenas (DPAQUI/SDR), compareceu no ato realizado na sede da Associação Quilombola Rincão do Quilombo. Conforme o diretor, “o trabalho realizado pelas lideranças comunitárias é importante e está sendo recompensado com cada vez mais investimentos”.
No total, serão 158 moradias construídas no interior de seis municípios da região Sul do Estado: Aceguá (13), Canguçu (13), Pedras Altas (25), Pelotas (53), Piratini (44) e São Lourenço do Sul (10). Cada unidade irá conter dois dormitórios, sala, cozinha, área de serviço e banheiro, todas com caixa d’água, sistemas de esgoto e tratamento de efluentes. O prazo de entrega é de 18 meses.
A iniciativa é uma política conjunta que envolve a Casa Civil, as secretarias de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR), de Habitação e Saneamento (Sehabs) e da Justiça e Direitos Humanos (SJDH). As ações fazem parte do Programa RS Mais Igual – Povos Tradicionais Quilombolas. O investimento para execução das obras é de R$ 4,5 milhões, sendo que R$ 4 milhões são procedentes do Programa Minha Casa Minha Vida, através do Programa Nacional de Habitação Rural (PNHR).
(Ascom/SDR)

África é o berço da inteligência humana


Sítio arqueológico de Blombos.

A cultura humana nasceu muito antes do que imaginávamos. E na África – não na Europa, como pensavam os estudiosos. Há 77 mil anos, os ancestrais do homem já eram capazes de fazer arte e pensar de forma abstrata. Prova disso são duas barras de argila colorida com desenhos geométricos encontradas no sítio arqueológico de Blombos, a 290 quilômetros da Cidade do Cabo, na África do Sul, em 2004. As descobertas foram feitas pela equipe do antropólogo americano Christopher Henshilwood, da Universidade de Nova York. “A presença de objetos entalhados de gravuras significa que as habilidades de aprendizagem e a capacidade para o pensamento abstrato estavam presentes entre aqueles homens”, diz. “Essa aptidão para o armazenamento de informações fora do cérebro humano é entendida como cultura, como inteligência.”
Os novos achados refutam a teoria de que o despertar da cultura humana teria ocorrido na Europa, conforme sugeriam pinturas rupestres encontradas em grutas na França, em lugares como Lascaux (a descoberta foi em 1940), Chauvet (em 1994) e Cussac (em 2004), além de Altamira, na Espanha (ocorrida em 1868) – todos esses desenhos encontrados na Europa não têm mais do que 35 mil anos. “Isso indica que o povo africano, de quem nós todos descendemos, era moderno em suas atitudes muito antes de eles chegarem à Europa e substituírem os neandertais”, afirma Henshilwood.
Jóia é sinal de cultura
Jóias descobertas na caverna em Blombos.
Stefan Gan
Fabricar jóias é um sinal de aprendizagem. Isso foi levado em conta pela equipe de Christopher Henshilwood como um dos sinais de que a África foi realmente o berço da inteligência. No mesmo sítio arqueológico de Blombos, os cientistas encontraram 41 peças que acreditam terem sido usadas como ornamentos pessoais. Elas têm 75 mil anos e eram feitas com as conchas de um molusco que habita a região, o Nassarius kraussianus.
Os objetos têm perfurações e marcas de uso. Até então, as jóias mais antigas já encontradas eram mais recentes: tinham cerca de 50 mil anos. “As conchas eram usadas como jóias, símbolos de troca e também para identificação de algum grupo específico. Isso tudo indica que, há 75 mil anos, já existiam formas de os homens se comunicarem uns com os outros”, afirma Henshilwood. “Portanto, podemos dizer que a linguagem humana já estava desenvolvida.”
Racionais
Geometria esperta
Os desenhos geométricos encontrados nas duas peças de argila em Blombos são uma série de losangos. Os pesquisadores só os consideraram manifestações de inteligência porque não são simples rabiscos, e sim símbolos de pensamento abstrato.
Conchas reveladoras

As conchas encontradas em Blombos também serviam como parte de um sistema de troca de presentes conhecido como hxaro. Se uma seca provocasse escassez em uma tribo, esse grupo mudava-se para o território de outro, onde encontrava auxílio com quem tinha estabelecido laços hxaro.
Livro velho
A corrida pelos vestígios humanos mais antigos do mundo é acirrada. O livro O Despertar da Cultura, de Richard Klein e Stanley Ambrose, recém-publicado no Brasil, já chega por aqui velho. O livro relata a descoberta pelos dois de jóias de 50 mil anos na África. Os achados em Blombos os deixaram para trás.

Fonte:civilizacoesafricanas.blogspot.com.br

W Negro - Mundo Melhor


HISTÓRIA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA


TCE-RS comprometido com ensino de história afro-brasileira e indígena.


O presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS), conselheiro Cezar Miola, recebeu em audiência, na última segunda-feira (8), o procurador do Estado, Jorge Terra, e a adjunta de procurador do Ministério Público de Contas (MPC), Fernanda Ismael. O encontro aconteceu no gabinete da presidência e tratou sobre a implantação do artigo 26-A da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que estabelece a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena nas escolas de Ensino Fundamental e Médio, tanto públicas quanto privadas.
Várias entidades públicas estão somando esforços para assegurar que o comando legal seja observado em todo o País e o TCE-RS passará a integrar este movimento. Segundo Cezar Miola, o Tribunal está comprometido com os objetivos definidos pela LDB e com as políticas inclusivas de educação, prova disto é o parecer emitido pela Corte em favor das cotas raciais. “Agora se trata de garantir que a determinação da LDB seja efetiva, meta para a qual o Tribunal de Contas oferecerá sua contribuição, estimulando os gestores e incluindo o tema em suas auditorias”, disse.
Marcos Rolim - Assessoria de Comunicação Social do TCE-RS
Fonte: jorgeterra.wordpress.com

Tânia Terezinha da Silva - Prefeita Negra

                            Conheça Tânia, a prefeita negra que governará em terra de alemães. 
                                                                       Foto: Livía Stumpf -Agência RBS
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A partir de 1º de janeiro de 2013, o município de Dois Irmãos, terra carregada de sotaque e costumes alemães, berço de um povo reservado e discreto, será comandado por Tânia Terezinha da Silva, prefeita negra, simpática, espaçosa e faceira que conquistou o eleitorado justamente por assumir sem ressalvas a alegria contagiante. Surgiu na campanha eleitoral a definição que abriga, na mesma frase, a forasteira negra e a cidade de colonização alemã, a popularidade de uma dobrando a desconfiança da outra, a acolhida que não deixa de evidenciar a maior diferença entre ambas:
— Tânia, tu és uma alemoa com película!
Dois Irmãos, terra de sotaque carregado que preza a arquitetura e a música típicas, o baile da linguiça, o joelho de porco e a cuca no prato do churrasco, elegeu Tânia Terezinha da Silva, 49 anos, primeira mulher a comandar os 27,5 mil habitantes do município do Vale do Sinos. Tomará posse em 1º de janeiro a técnica em enfermagem criada na vizinha Novo Hamburgo, vereadora de dois mandatos que conquistou rapidamente um povo em geral desconfiado e reticente. Mas esta não é uma narrativa épica de embate e vitória contra o preconceito, de lágrimas vertidas frente a injustiças impressas na cor da pele ou de uma relação parida a contragosto. Não parece exagero afirmar que os 9.450 votos conquistados de porta em porta, em uma campanha de pouca verba, foram angariados com sorrisos. A amante do Carnaval de numerosas tranças que misturam cabelo natural e sintético, esculpidas pela cabeleireira em sessões de nove horas, sempre erguida às alturas pelo saltão que pisa firme no paralelepípedo, é uma celebridade no Berço do Café Colonial.
— Olha para Dois Irmãos e olha para mim, preta desse jeito! Eu chamo a atenção — diverte-se a hamburguense. — Sou espaçosa. Isso vence barreiras.
A autodefinição combina com o que se observa na rotina da cidade produtora de calçado, formada por 91,5% de brancos e 1,5% de negros, que recebeu os primeiros colonos em 1825. Tânia percorre as calçadas fazendo escalas, a todo instante abordada para apertos de mão e abraços, trocando uma palavrinha com quem cruza o caminho e acenando para os que passam lá adiante.
Roza Antonia da Silva, mãe de Tânia 
Foto: Diego Vara/Agência RBS
— Linda! — grita o motorista que reduz a velocidade ao avistá-la posando para fotos.

Arrisca-se em meia dúzia de frases e palavras soltas no idioma que não conseguiu aprender em 20 anos. Acha as estruturas parecidas demais, restringe-se a "alles gute?" (tudo bem?), "alles blau?" (tudo azul?), "kuss" (beijo) e "danke schön" (muito obrigado).

— Não é fácil falar alemão. A língua tem que virar muito — concorda a dona de casa Edith Weimer, 65 anos, paciente da Unidade Municipal de Saúde do Travessão, onde Tânia cumpre seis horas diárias, esforçando-se para compreender o emaranhado de consoantes pronunciado pela prefeita. — Ela é ótima. Quando falaram que seria candidata, logo pensei que iria ganhar. A cor não tem nada a ver.

Tânia antes atendia pelo primeiro nome, agora tenta se habituar a formas de tratamento mais corteses.

— E para a senhora? — pede o garçom, conhecido de tantos almoços anteriores ao último 7 de outubro, ao anotar os pedidos de bebidas no restaurante.

— Senhora? Tânia! Meu nome é Tânia — reage ela, numa falsa careta de contrariedade. — Fora da prefeitura, quero um tratamento informal, quero ter contato, não quero barreiras. Na rua você colhe muita coisa, as melhores ideias — esclarece.

Filiada desde 1995 ao PMDB, partido que teve uma sequência de 20 anos no poder interrompida em 2008, Tânia representou a coligação Inovando para o Bem, composta ainda pelo PP e pelo PTB. Enfrentou o mandatário em exercício, Professor Miguel (PT), superando-o em 610 votos. A diferença que parece apertada, na opinião dela, é uma vantagem vistosa se comparada ao desprestígio que os peemedebistas se obrigaram a digerir ao final da apuração de 2008. No início deste ano, pesquisas internas da sigla sinalizavam a boa aceitação do nome da candidata em uma eventual disputa majoritária.

— Ela sempre foi de se doar, querendo ajudar e fazer o bem ao próximo. Humilde, simpática, mulher guerreira, lutadora. Vimos nela a possibilidade de ocupar um cargo público — lembra Renato Dexheimer, duas vezes prefeito e hoje presidente do PMDB, que ofertou a possibilidade do início da carreira política, nos anos 90.

O gosto pela vida de palanque surgiu bem depois da descoberta da primeira vocação. A "nenê" entre seis irmãos, "uma criança diferente, que não era arteira e não brigava", de acordo com a mãe, a doméstica e zeladora aposentada Roza Antonia da Silva, 83 anos, optou cedo pela área da saúde. Frequentou escolas particulares como bolsista, abatendo a maior parte do valor das mensalidades. A família esticava o orçamento apertado para caber no mês, mas nunca lamentou grandes carências. Eram os únicos negros da Vila Rosa, em Novo Hamburgo, e Dona Roza — que acha graça do próprio nome, registrado com "Z", estranheza que nunca viu igual — garante que jamais sofreram qualquer distinção na vizinhança. Pedro Lindomar da Silva, o Negrão Mario, chefe da casa, trabalhava como motorista de uma família importante. Nos finais de semana, ficava com o carro dos patrões — um Corcel azul, depois um Opala branco, ambos quatros portas —, ocasiões em que a caçula aproveitava para fazer pose de rica. Tânia anunciava, já na infância, a vontade de ser enfermeira. “Mas tu vais lidar com ferida”, alertava o pai, falecido em 1981.

— Via um colega feridento, outro vomitando, e não tinha nojo. Ela veio com esse dom de ajudar as pessoas — garante Dona Roza, generosa nos detalhes em qualquer resposta.

Com o ingresso no Ensino Médio, entre magistério, contabilidade e técnico em enfermagem, a escolha foi fácil. No segundo ano do curso, apareceu a oportunidade de trabalho como atendente no Hospital Regina, onde começou a exercitar o destemor aflorado precocemente. Era responsável pela higienização dos pacientes, trocando fraldas e dando banho naqueles que por vezes nem podiam deixar o leito.

— Eu adorava. Descobri o valor da vida. Aprendi que tudo muda num acidente, num segundo — ensina Tânia, que saía às 22h e voltava à Vila Rosa de bicicleta, os pais fazendo-lhe companhia a partir de certo ponto.

Logo o primeiro emprego virou dois, e a técnica em enfermagem preencheu o turno da tarde no Hospital Geral. Começava às 7h em um, estendia-se até as 19h30min no outro, restando meia hora para o almoço no deslocamento entre ambos. A rotina de plantões em finais de semana e feriados pesou ao casar com o mecânico Reneroges Barreto de Souza, hoje professor de Educação Artística, e principalmente com o nascimento de Pablo, em 1988. Sonhava com um expediente de segunda a sexta-feira, e a oportunidade cintilou em um anúncio de jornal. Prestou o concurso de vaga única em Dois Irmãos, em 1989, e assumiu dois anos depois, circulando por todos os bairros em uma unidade móvel de saúde. Começava a se alicerçar ali a relação de confiança e proximidade que se provaria fundamental no futuro. Tânia conhecia de perto as miudezas de cada localidade — e ouvia atenta a comunidade que acabaria por elegê-la em três pleitos.

De 1991 a 1994, viveu entre as duas cidades, distantes cerca de 15 quilômetros. Hohana nasceu em 1992, e para ficar mais perto dos filhos a mãe decidiu que viajaria com eles todos os dias. Acordava às 5h, preparava os irmãos para o percurso em dois ônibus e os deixava em uma creche de Dois Irmãos antes de chegar, sempre com 10 minutos de atraso, à prefeitura. Ao final do dia, mais dois trechos em coletivo para o retorno, com um acréscimo na bagagem.
Seu Zéca, proprietário do armazém mais conhecido de Dois Irmãos 
Foto: Diego Vara/Agência RBS
— Era tudo com fraldas de pano, lavadas com sabão de coco ou glicerina, passadas dos dois lados para não dar alergia na bundinha. Tirava o excesso de cocô e colocava em uma sacola plástica, dentro da mochila — explica, rindo ao lembrar do odor que a golpeava na hora de abrir a embalagem no destino final. — Mãe não sente cheiro ruim, né? E quando vê está limpando o nariz dos filhos com os dedos — completa.
A jornada seguia com o jantar das crianças, a sessão no tanque e as demais tarefas domésticas. Depois de quatro horas de sono, tudo outra vez.
Novo Hamburgo crescia, os contratempos e as mazelas de cidade grande se impunham, e o apelo das casas sem grades e dos jardins floridos incentivou a troca definitiva de endereço. Os dias se alargaram, sobravam horas para os filhos. Tudo ficou mais fácil, mesmo sem carro. Em seguida, vieram o convite de Dexheimer para a entrada no PMDB e a estreia como vereadora, eleita em 1996. Ficou como suplente ao concorrer pela segunda vez, quatro anos depois, quando assumiu como coordenadora do Posto 24 horas, que concentra todos os atendimentos de urgência. A esfera pessoal também sofreu transformações no período, e o casamento não resistiu à entrada do novo milênio. Os boatos de apocalipse que rondavam o noticiário com a proximidade da troca de dígitos no calendário apressaram o divórcio.
— Não deu certo, não foi traição. Como eu poderia começar o novo século infeliz? "O mundo vai acabar e eu estou infeliz?", pensei — relata, quebrando um segredo assegurado por lei para provar que a convivência com o ex permanece harmoniosa até hoje: — Ele sempre vota em mim.
Os anos 2000 propiciaram um encontro — juntos até hoje, Tânia e João Neves, 58 anos, presidente da Associação das Entidades Recreativas, Culturais e Carnavalescas de Novo Hamburgo, compartilham a paixão pelos desfiles. Militante do PT, Neves reduzia os deslocamentos no carro repleto de adesivos quando ia a Dois Irmãos para ver a namorada.
— Eu respeito as ideias dela, ela respeita as minhas.
Encontram-se nos finais de semana e nas quartas-feiras. Gostam de tomar chimarrão na Praça do Imigrante, acompanhados por Pablo, 24 anos, estudante de Biomedicina, e Hohana, 20, aluna de Enfermagem. Mãe e filhos experimentam uma felicidade ruidosa, que obrigou o síndico do condomínio a encaminhar duas notificações por escrito – sem contar as demais, verbais. Cada um com seus motivos: Tânia pela bateção do salto alto no piso, Pablo por conta da dedicação incansável à guitarra, Hohana com uma risada que atravessa paredes. Até a gata, recepcionada como Fred, mais tarde rebatizada de Frida, integra o time do barulho.
— Nossa, mas que gato mais bicha. Que pelo mais lisinho — surpreendeu-se Tânia ao adotar o bichano sem lar. — Não é que ela entra no cio e se apaixona por um gato lá de baixo, na calçada? — conta, às gargalhadas, apontando a ampla sacada.
O apartamento estremece com os acordes de heavy metal, mas o amor irrestrito da peemedebista é pelas escolas Cruzeiro do Sul e Protegidos da Princesa Isabel, na terra natal. Tão notório que inflamou boatos. Na última campanha, circulou entre os eleitores o alerta de que, caso eleita, Tânia transformaria o solo dois-irmonense em passarela permanente para a folia do samba.
— É verdade que tu vais acabar com o Kerb de São Miguel? — indagavam os moradores, temerosos pela ameaça a sua festa mais tradicional.
Os idealizadores da candidatura providenciaram material específico para serenar os ânimos dos guardiães da valorosa herança colonial. "Qualificar ainda mais o kerb é um compromisso nosso", prometia o santinho distribuído pela coligação. Enquanto o adversário contratava carros de som suficientes para cobrir todo o perímetro urbano, Tânia e o vice, o vereador Jerri Adriani Meneghetti, 33 anos, tentavam multiplicar com a sola dos sapatos os R$ 120 mil do caixa. Intensificavam as visitas a partir do meio da manhã, respeitando o gosto dos telespectadores locais pelo Mais Você, programa de Ana Maria Braga que começa às 8h30min na Globo, e a preparação do almoço. De tarde, nova rodada. Nos dias mais produtivos, visitavam até 70 residências, eventualmente aceitando convites para entrar e tomar um cafezinho.
— Dizia: "O nosso comprometimento é com o trabalho, a verdade e a transparência", olhando nos olhos da pessoa — detalha Tânia, que pretende concentrar forças no "arroz com feijão", qualificando o atendimento básico nos cinco postos de saúde.
Por certo o perfil efusivo da postulante não era celebrado como unanimidade. Houve desconfiança, e alguns cochichos se ocupavam em debater uma incerteza: o guarda-roupa colorido, o cabelo chamativo e o comprimento dos vestidos da possível administradora comprometeriam a reputação de Dois Irmãos?
— A cidade é conservadora, e a Tânia é "dada", abraça todo mundo. Por ela ter esse jeito meio faceiro, o alemão tradicional poderia ter a ideia de falta de seriedade. No início, muitos políticos não a apoiaram. A partir do momento em que a campanha tomou corpo, eles entraram – comenta o jornalista Mauri Marcelo Toni Dandel, editor-chefe do Diário da Encosta da Serra.
Vereador reeleito, preparando a transferência da situação para a oposição no próximo mês, Joracir Filipin (PT) faz o balanço de uma convivência tranquila na atual legislatura, talvez com alguma discussão mais acalorada – Tânia, segundo ele, não é afeita ao confronto e ao debate. Contabiliza os projetos levados à Câmara para medir a produtividade de ambos.
— Eu aprovei nove, ela aprovou um, dando o nome de uma rua. Faltou empenho, né? Como vereadora e gestora da área da saúde, poderia ter se empenhado mais – critica Filipin, orgulhoso idealizador de uma versão local para a Lei da Ficha Limpa e do Mês do Café Colonial, comemorado em julho, para fomentar o comércio.
Meneghetti, atual presidente da Câmara, confere os arquivos e sai em defesa da companheira de chapa, salientando que os projetos representam apenas um dos instrumentos de ação à disposição do Legislativo.
— A Tânia aprovou dois projetos nesse sentido (nomes de rua) — corrige, frisando o número. — E a maioria dos projetos do vereador Joracir foi sugerindo nome de rua – acrescenta Meneghetti, com um tom de reprimenda pontuando a frase.
Com o acirramento da disputa, apostadores de botequim definiam trincheiras. Operante há mais de meio século, o Armazém Scholles, carinhosamente referido pela clientela como Shopping Scholles ou Iguatemiro, dado o sortimento a brotar das prateleiras, sediou rodadas de carteado e palpites valendo dinheiro, cerveja ou "um galetinho".
— Vamo na pretinha? Vamo, vamo na pretinha. Vamo meter na pretinha porque ela é simpática e faz tudo — diz o proprietário, José Scholles, 60 anos, reproduzindo o que ouvia nas mesas em frente ao balcão, onde um pote plástico repousava com ovos em conserva em uma recente tarde calorenta.
Dois Irmãos concluiu depressa a apuração dos votos de seus 21.279 eleitores. Dona Roza acompanhava o dia mais importante da história pública da filha e narra, admirada, o que enxergou debaixo daquelas nuvens carregadas ao final de um domingo.
— Choveu, e aquela gente de idade olhando pro céu, tudo chorando, parecia que estavam agradecendo! Aquela gente chorando e rezando e agradecendo. O que passou nessa cabeça dessa gente? E hoje estão com toda aquela esperança na Tânia. Eu nunca chorei por um candidato. Não deu pra mim entender isso. Votei e voto, me orgulho, mas nunca chorei. Eu nunca vi isso aí. Não deu pra chorar nem nada. Fiquei traumatizada, sei lá eu o que que me deu. Me botaram em cima do palco do ginásio, chovia por cima e por baixo, me arrastaram lá pra cima.
A aposentada ainda não providenciou o traje para a posse. Estará lá, apesar dos incômodos da artrose nas pernas e nas mãos e já imaginando um certo aperto no peito, aflita com o aumento de responsabilidades e cobranças que prevê pelos próximos quatro anos para a caçula.
— Geralmente, todos querem mais do governo, do presidente, do prefeito. Sempre fica faltando. Não dá para atender tudo também, né? — pondera Roza. — Mas é muito fácil conviver com a Tânia. É de Câncer, um signo muito fácil. Estou emocionada. O pai dela poderia estar aí pra ver.



Mestre no Museo





















quarta-feira, 17 de abril de 2013

Racismo e Cotas



Racismo e cotas
Arquivado em: Uncategorized — jorgeterra @ 20:52
Tags: alforriados, Brasil, Brazil, Bresser Pereira, cotas, England, escravagista, escravidão, FHC, ilegalidade, Inglaterra, liberdade, negros, racism, racismo, sequestradores, STF
Racismo e cotas
Luiz Felipe de Alencastro
Folha de S. Paulo, 7.3.2010
Pacto entre proprietários de escravos constitui o pecado original da
sociedade e da ordem jurídica do Brasil
Em 2010, os negros brasileiros passam a formar a maioria da população do país.
A mudança vai muito além da demografia. Ela traz ensinamentos sobre o nosso
passado e desafios para o nosso futuro.
No século 19, o Império do Brasil aparece como a única nação que praticava o
tráfico negreiro em larga escala.
Alvo da pressão britânica, o comércio de africanos passou a ser proscrito por
uma rede de tratados que a Inglaterra teceu no Atlântico. Na sequência do tratado
de 1826, a lei de 7 de novembro de 1831 proibiu o comércio de africanos no
Brasil.
Entretanto, 760 mil indivíduos vindos da África foram trazidos entre 1831 e
1856, num circuito de tráfico clandestino.
Ora, a lei de 1831 assegurava a liberdade imediata aos africanos introduzidos no
país após a proibição.
A partir daí, os alegados proprietários desses indivíduos livres eram considerados
sequestradores, incorrendo nas sanções do artigo 179 do Código Criminal de
1830.
Porém, o governo imperial anistiou, na prática, os senhores culpados do crime de
sequestro, deixando livre curso ao crime correlato, a escravização de pessoas
livres.
Imoral e ilegal
Os 760 mil africanos desembarcados até 1856 -e a totalidade de seus
descendentes- continuaram sendo mantidos ilegalmente na escravidão até 1888.
Ou seja, boa parte das duas últimas gerações de indivíduos escravizados no
Brasil não era escrava. Moralmente ilegítima, a escravidão do Império era ainda -
primeiro e sobretudo- ilegal.
Tenho para mim que esse pacto dos sequestradores constitui o pecado original da
sociedade e da ordem jurídica brasileira. Firmava-se o princípio da impunidade e
do casuísmo da lei. Consequentemente, não são só os negros brasileiros que
pagam o preço da herança escravista.Outra deformidade gerada pelo sistema refere-se à violência policial.
Depois da Independência, no Brasil, como no sul dos EUA, o escravismo passou
a ser consubstancial à organização das instituições nacionais.
Entre as múltiplas contradições engendradas por essa situação, uma relevava do
Código Penal: como punir o escravo delinquente sem encarcerá-lo, sem privar o
senhor do usufruto do trabalho do cativo que cumpria pena de prisão? O quadro
legal definiu-se em dois tempos. Primeiro, a Constituição de 1824 garantiu, no
artigo 179, a extinção das punições físicas. “Desde já ficam abolidos os açoites, a
tortura, a marca de ferro quente e todas as mais penas cruéis.”
Conforme os princípios do iluminismo, ficavam preservadas as liberdades e a
dignidade dos homens livres. Num segundo momento, o artigo 60 do Código
Criminal reatualiza a pena de tortura: “Se o réu for escravo e incorrer em pena
que não seja a capital ou de galés, será condenado na de açoites…”.
Com o açoite, com a tortura, podia-se punir sem encarcerar: estava resolvido o
dilema. Oficializada até o final do Império, essa prática punitiva atingiu as
camadas desfavorecidas, travando o advento de uma política fundada na
liberdade individual e nos direitos humanos. Uma terceira deformidade gerada
pelo escravismo afeta o estatuto da cidadania.
É sabido que até a Lei Saraiva, de 1881, os analfabetos, incluindo negros
alforriados, podiam ser eleitores de primeiro grau, que elegiam eleitores de
segundo grau, os quais podiam eleger e ser eleitos parlamentares. Depois de
1881, foram suprimidos os dois graus de eleitores. Em 1882, o voto dos
analfabetos foi vetado.
Decidida no contexto pré-abolicionista, a proibição buscava barrar o acesso do
corpo eleitoral aos libertos. Gerou-se uma infracidadania que perdurou até 1985,
quando foi autorizado o voto do analfabeto. Mas a exclusão foi mais impactante
na população negra, em que o analfabetismo registrava, e continua registrando,
taxas proporcionalmente mais altas do que entre os brancos.
Nascidas no século 19, as arbitrariedades engendradas pelo escravismo
submergiram o país inteiro. Por essa razão, ao agir em sentido contrário, a
redução das discriminações que ainda pesam sobre os negros consolidará nossa
democracia.
Democracia
Não se trata aqui de uma lógica indenizatória, destinada a garantir direitos
usurpados de uma comunidade específica -como foi o caso, em boa medida, nos
julgamentos sobre as terras indígenas. Trata-se, sobretudo, de inscrever a
discussão sobre as cotas no aperfeiçoamento da democracia.

Nesse sentido, a arguição de inconstitucionalidade impetrada no Supremo
Tribunal Federal [que analisa a constitucionalidade do sistema de cotas da
Universidade de Brasília] revela-se obsoleta. Na verdade, as cotas raciais
beneficiaram e beneficiam dezenas de milhares de estudantes nas universidades
privadas no quadro do ProUni e 52 mil estudantes nas universidades públicas,
funcionando há vários anos, com grande proveito para a comunidade acadêmica
e para o país.
Os incidentes suscitados pelas cotas raciais são mínimos e muitíssimo menos
graves do que as truculências perpetradas nos trotes universitários. Como no caso
do plebiscito sobre o presidencialismo e o parlamentarismo, o debate sobre as
cotas raciais atravessa as linhas partidárias. Aliás, as primeiras medidas de
política afirmativa relativas à população negra foram tomadas, como é
conhecido, pelo governo FHC.
A existência de alianças transversais deve nos conduzir, mesmo em ano de
eleição, a um debate onde os argumentos possam ser analisados a fim de
contribuir para a superação da desigualdade racial que pesa sobre a democracia
brasileira.
Luiz Felipe de Alencastro é historiador e professor na Universidade de Paris 4.
Este artigo é um resumo da fala apresentada no STF, como representante da Fundação Palmares.