sábado, 4 de maio de 2013

Mulheres negras


Em época de crise mundial, elas estão na contramão da história. Suas histórias de vida têm em comum a personalidade, a persistência e a preparação, conjugadas em luta e resistência. Mulheres que fazem acontecer. São exemplos notáveis de mulheres negras executivas, jornalistas, cientistas, atletas, pesquisadoras, DJs, que mostram com garra sua capacidade de criação, de inventividade, de compromisso e seriedade com a produção do conhecimento, com o esporte, com a produção de informações, de música e de poesia. Sim, somos capazes. Basta termos a oportunidade.

Alegre e bem-humorada, ela foge do estereótipo do cientista carrancudo e ranzinza. Essa disposição de espírito parece ter ajudado Sônia Guimarães a ultrapassar sólidas barreiras para se tornar a primeira negra brasileira Doutora em Física, título adquirido pela Th e University Of Manchester Institute Of Science And Technology, e respeitada professora do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA).

Primeira pessoa da família a cursar a universidade, Sônia teve total apoio, sobretudo, da mãe, já que o pai implicava com o fato de ela ir estudar longe de casa, em São Carlos, interior de São Paulo. A sólida formação adquirida em várias especializações não impede que, ao participar de congressos nacionais como única profissional negra, perceba "que ninguém acredita no meu currículo, de primeira mão, eles esperam que eu vá trabalhar no congresso e não apresentar um trabalho de pesquisa."

Sobre a superação das dificuldades encontradas no mercado de trabalho pelas mulheres negras, acredita que é preciso estudo e dedicação: "elas têm que estudar, se especializar, se tornar altamente qualificadas, pois por serem negras, tudo será muito difícil, portanto, têm que ser as melhores." O investimento em formação pode incentivar a participação das mulheres em variados espaços de poder. "Necessitamos de mais mulheres negras escolhendo, fazendo a seleção de pessoal.

Não adianta ser a única. Se formos muitas e em várias posições hierárquicas, isso vai melhorar", destaca. No dia-a-dia, as manifestações de racismo se entrelaçam com as de sexismo, deixando dúvidas sobre quais das duas é mais perniciosa. "É difícil saber se é por que eu sou mulher ou porque sou negra. Mas os homens nunca acreditam em minha capacidade ou inteligência. Estão sempre esperando que eu dê um fora, ou fale algo errado, estão sempre tentando me corrigir. Corrigem coisa que eu falei corretamente, só dizem de outra forma, mas é a mesma coisa que eu já tinha dito", salienta Dra. Sônia.

     

Na posição de pesquisadora e professora, acredita que a ciência pode melhorar tudo. "Com o conhecimento você pode dominar situações, reagir, brigar, correr atrás do que quer, ter idéias novas. No final teremos um presidente negro aqui também, como nos Estados Unidos, em 40 anos. Mas precisamos começar agora. A diversidade de idéias só faz engrandecer o saber", conclui.

Sônia: luta contra o racismo e o sexismo para se impor na carreira científica
Incentivo à criatividade

O ambiente familiar propício à experimentação foi um incentivo para a formação profissional de Maria Augusta Arruda. Filha de um ator e professor e de uma terapeuta, aprendeu, desde cedo, a exercitar suas múltiplas inteligências.

Primeira mulher negra a ganhar o prêmio L'Oréal-Unesco-ABC para Mulheres na Ciência, é Doutora em Biociências Nucleares pela UERJ e pesquisadora da Fiocruz. Sua pesquisa destina-se a entender doenças hemolíticas como a anemia falciforme, que atinge preferencialmente a população negra.

O INVESTIMENTO EM FORMAÇÃO PODE INCENTIVAR A PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES EM ESPAÇOS DE PODER

A exclusividade deste tipo de prêmio, obtido em 2008, é tida como resultado de uma luta que não é de agora. "Sei que o fato de estar ocupando este espaço é consequência da luta travada não só pelos meus antepassados diretos, sobretudo das mulheres de fibra como minha tataravó, bisavó, avó e mãe, e de todos aqueles que devotaram suas vidas à luta contra a opressão. Mais do que empunhar bandeiras, louvo àqueles que se comprometeram com a formação moral-acadêmica de seus dependentes, a despeito das adversidades".


Maria Augusta: mulheres de fibra brigaram para abrir espaço para essa geração.
A convivência em espaços escolares mais seletos, onde crianças negras, normalmente, são exceção, não interferiram na autoestima de Maria Augusta. "O que posso relatar é que eu e minha irmã sempre fomos 'as diferentes'. As discrepâncias étnicas e sociais em nosso país são flagrantes, o que pode ser constatado, sobretudo, pela falta de acesso a uma educação sólida", admite.

Ela se sente regozijada por perceber mudanças na comunidade acadêmica, pois acha que "está se tornando um pouco mais democratizada, que, cada dia que passa, adquire a 'cara' da nossa população." No tocante às políticas públicas específicas para as mulheres negras, acredita que os estudos feitos são de grande relevância. "Realmente acho que passa pela reafirmação da autoestima, valorizando não só os aspectos estéticos, mas também intelectuais", aponta.

fonte:http://racabrasil.uol.com.br/cultura-gente.

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